Toda essa dor que me causa espanto,
Donde vem que não cessa?
Se ao menos eu soubesse de que raízes são feitas,
Ou se ao encontrar as pudesse cortar.
Mas como tudo tem seu efeito,
Cortando-as não estaria eu morrendo primeiro?
O errado existe no meio da fé
Daquela que vem ligeira e não fica,
Cortando-me em pedaços jogados, desfeitos.
E ainda ali um pouco de esperança
Nas partes todas que não existo,
Das partes que eu ainda não sou.
Desmancham-se agora, minhas memórias vagas,
As lembranças que eu tanto cultivava
Da vida que eu nunca tive,
Da qual, pela dor eu me refugiava.
E de repente é mesmo assim
Todos devem ter um abrigo.
Os limites que dei a mim, não me limitavam.
Eu nunca cumpri as regras, eu as desrespeitava,
E talvez assim é que pude saltar do abismo,
Mesmo que as dores me fossem causadas,
Porque na verdade elas sempre existem,
Mas podem depois desaparecer e já não existir.
E de tudo quanto é dor, nada se compara,
Com aquelas que criam raízes no íntimo
E não se rompem, não se desatam,
Mesmo cortadas, revigoram e crescem
E tornam-se um emaranhado só,
Como se do corpo já fizessem parte.
Eu não, eu nunca quis esta parte da vida pular,
Porque assim eu sobrevivi melhor
Não me lamentei por não ter tido algo,
Meu lamento é só pelo que não pude ser,
Mas se o que sou é um mero espanto
Então estive andando pelo caminho certo.
DAIANE FURLAN CANAL (21-06-10)
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